Monday, June 20, 2011

Livro traça apaixonante retrato da sexualidade brasileira

Pola Oloixarac
Especial para a FOLHA

Uma pesquisa sobre os tópicos ou clichês de exportação que definem "o brasileiro" conferiria ao Brasil um ar decidido de potência dionisíaca: a ideia de que ninguém domina como o Brasil o jogo bonito do bem-estar sexual. [Si, siguiendo al filósofo Slavoj Zizek, lo que define la cultura capitalista actual ya no es la represión si no más bien el imperativo de gozar, la explosión económica brasilera sería responsable del repositorio mundial del placer… Pero antes de lanzarnos a especular, más vale conocer la historia.]
Neste livro-viagem através das fantasias e dos costumes sexuais do Brasil, a historiadora Mary del Priore revela o mutante universo ético da intimidade. É um exercício de imaginação sobre a matéria sutil das relações humanas ao longo de cinco séculos, fundamentado em uma pesquisa farta que narra e reflete ao mesmo tempo.
A história oculta do prazer ganha vida através de suas fontes: o poeta Gregório de Matos (1636-1695), que cantou os baixos instintos no século 17, periódicos de época, romances e crônicas.
"Histórias Íntimas" abrange desde a época em que o sexo feminino era conhecido como "porta do diabo" até as primeiras cirurgias de transformação sexual em 1979.Descreve o estilo imperial do adultério no século 19 e recupera a pré-história do pornô carioca (belas ilustrações incluídas), com anedotas e imagens que põem a nu a idiossincrasia (e hipocrisia) das épocas.
Em um exercício de voyeurismo erudito, o livro rastreia os hábitos da transgressão e a norma: o lugar onde a prática privada se torna política e onde a "normalidade" entra em disputa.
Perspectiva privilegiada, a história da intimidade mostra o amoldamento dos processos civilizatórios em sua convenção e violência. Se bem que, nesta história, as batalhas sejam escritas debaixo dos lençóis.Mary del Priore narra uma história apaixonante e reflexiva: mostra como o avanço da colonização marcou diretamente a opressão da mulher através de camadas sucessivas de misoginia e racismo, interpelando o presente. Porque falar do passado pode fazer o presente estremecer: há apenas 30 anos, um homem podia assassinar sua mulher alegando que foi "em legítima defesa da honra" e sair aplaudido.
Essas guerras íntimas têm suas próprias heroínas épicas, embora silenciosas. À medida que vamos passando pelas páginas, avançamos como que abrindo caminho, pouco a pouco, em meio à folhagem da densa selva da história para descobrir, penteando seus cabelos nos rios, as Vênus do Brasil.



(para los no iniciados en los arcanos de las religiones populares brasileras, ésta es la Mulher Melancia, vestal de la Igreja de la Danca do Creu -muitos cariocas rezam lá!)

2 comments:

fernandes said...

Qué glorioso pandulce Garota Melancia.

Sueños sublimes.

Emy Neto said...

Eu gosto da MARY DEL PRIORE. Indico também MIRIAM GOLDENBERG e MARIA RITA KELH. Abraços.